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Campanha em Erebor – Cena 16 – Senhores de Lórien

22/06/2014

Cena Anterior: Campanha em Erebor – Cena 15 – Vir

Despertei. Meu Senhor Celeborn estava ao meu lado dormindo um sono profundo, sem sonhos. Era de madrugada, mesmo assim eles avançavam sem parar, um temor terrível os acometia e faziam com que não interrompessem a caminhada… ou melhor, a fuga. Eles não estavam caminhando, a muito custo conseguiram se desvencilhar dos dedos-galhos de Dol Guldur e entraram em meus domínios. Sorte a deles que não pararam, se tivessem o feito novamente estariam perdidos.

Levantei-me e caminhei até a janela leste. Minhas vestes translúcidas farfalhavam a medida que me mexia, e o ar frio da escuridão beijou minha pele. Minha visão penetrava fundo nas sedas da noite, mas ainda não os enxergava. Eles estavam bem nos limites de nossas fronteiras, onde os poderes do Inimigo e o meu se confrontavam sem cessar.

Celeborn acordou.

_ Minha Senhora, o que a tira da cama nessa hora da noite?

_ Um estranho grupo partiu e outro se aproxima. Eles estão desesperados e exaustos. Mesmo assim, chegarão aqui no anoitecer de amanhã.

_ Outro grupo formado por representantes dos Povos Livres? Quantos Anéis do Inimigo os Povos Livres possuem?

_ Somente o Um. Esse grupo não carrega nada a mais consigo, mas a menos. Eles escaparam da Torre da Necromancia.

Silêncio.

Então Celeborn disse:

_ Venha dormir. Amanhã mando um mensageiro avisar Haldir para encontrar o novo grupo.

_ Eu já envei a mensagem. Haldir já parte em seu encontro.

Então meu Senhor se virou e voltou a dormir.

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Com os primeiros raios de sol acordei, e não tive surpresa ao encontrar minha Senhora Galadriel ainda na janela leste, mirando nossa floresta. A luz dourada fazia suas madeixas claras ainda mais brilhantes…

Alatáriel.

A filha de Finarfin não usava jóias, pois ela mesma era uma gema viva a brilhar em Arda.

Juntei-me ao meu consorte, e senti a brisa úmida vinda do leste. “Dor, cansaço, pesar”. Não eram poucas as penúrias pelas quais nossos visitantes tinham passado. O Anel deixara Lothlórien, mas a Sombra estava em toda a Terra-Média. Até quando o poder de minha Senhora seria suficiente para proteger nosso povo? Logo chegaria a hora de abandonar nosso refúgio e partir com a força dos Galhadhrim para enfrentar o Inimigo.

Para minha surpresa, Galadriel sorria.

– Pesarosos são os acontecimentos dos últimos tempos, e temo que nossos momentos de alegria são cada vez mais escassos. Será que minha Senhora pode compartilhar com seu Senhor o motivo de seu sorriso? Adoraria juntar minha felicidade à de Galadriel.

– Mithrandir foi mandado de volta para nós.

Foi a minha vez de sorrir.

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< >

Enquanto a pequena comitiva se aproximava, notei seus semblantes. Eu não saía de Lothlórien há anos, mas nas últimas semanas tive contatos com pessoas tão diferentes que quase me sentia em um banquete em Eregion novamente.

Pai e filho, eldar, pequeno e, mais atrasado caminhando sozinho, homem do oriente. A comitiva era menor, mas o pesar era proporcional. Tanto sofrimento… será que o Portador do Anel teria a determinação para alcançar a paz para todos nós?

Enquanto contavam seu relato, vi que Mithrandir e Celeborn bebiam sua história de forma voraz. Poucos foram aqueles que entraram na Fortaleza do Inimigo e conseguiram sair, especialmente nos últimos tempos, e sobretudo ainda de olhos abertos.

– Meus queridos hóspedes, grandes são os feitos realizados por vocês, embora no momento vocês se sintam tão pequenos. Não se acanhem, embora três senhores velhos e terríveis estejam à sua frente, cinco heróis encontram-se na minha.

O oriental sorriu e fez uma mesura, e o pequeno piscou e ficou de boca aberta. Será que alguma vez já havia sido chamado de herói?

– E belo e poderoso é o amor de um pai para o filho. Ele e o descanso ainda trarão de volta a memória de Ágrapo, mas venha aqui Mestre Qhorin Martelo-e-Tenaz, deixe-me desanuviar a vista e o coração. Isto eu posso fazer.

Mithrandir aproximou-se do anão mais velho, e com uma breve benção, o artesão estava enxergando novamente.

– Tharkûn, ou “homem cinzento” em nossa própria língua era como chamávamos aquele conhecido como Mithrandir entre os elfos. Precisaremos de um novo nome para você agora Grande Mestre, pois sua luz é tão forte quanto a da Pedra Arken. Talvez… Talvez Arkhûn seja um bom nome, considerando sua amizade com Thorin Escudo-de-Carvalho. E caso seja permitido que um simples artífice crie um nome para um Senhor, é claro…

Para o deleite de todos, Mithrandir riu com gosto.

– Abençoados sejam os dias vindouros, quando artífices deixarão os Senhores sem fala. É um ótimo nome Qhorin, filho de Gaspar. Uma estrada longa me espera, mas terei o coração mais leve na jornada ao lembrar de suas gentis palavras.

Ao virar-se para os outros companheiros, o Mago Branco sorria com gentileza.

– É uma pena que não tenha tempo para desfrutar da companhia de tão nobres representantes dos Povos Livres, mas quero que nosso breve encontro seja lembrado. Agora que sei de suas histórias, entendo mais do que está acontecendo. Amigos, a guerra se aproxima! A guerra verdadeira, contra o Inimigo, não batalhas contra salteadores orcs ou simples mercenários. Voltem às suas casas, avisem seus reis. Dáin e Bard precisam saber que os exércitos de Sauron cairão sobre Erebor e Valle, antes que seja tarde.

As expressões dos companheiros estavam assustadas. Meu Senhor continuou.

– Mithrandir tem razão. Nossos povos estão separados, e o Senhor do Escuro não nos dará a oportunidade de nos unirmos sob um único estandarte em frente à sua fortaleza principal. Gwaihir, o Senhor das Águias nos relatou sobre estranhas criaturas aladas voando ao longo do Rio Anduin. Receio que os “Mestres de Dol Guldur” já estejam fora da antiga torre novamente. A batalha já está a caminho do Norte.

A compreensão e a resignação vieram em seguida, mas algo me intrigava. A aprendiz de Radagast mal reagira ao ouvir a conversa…

– Rowenna Capa-Cinzenta, não deixe a culpa te corroer. Seu mestre sabia o que fazia quando entregou o Coração de Rhosgobel para aquele que vocês chamam Thraurin, embora eu não consiga vê-lo.

– Mas agora ele caiu, e Rhosgobel cairá também.

– Assim como as folhas das árvores, para voltarem na primavera seguinte. Não entregue seu coração à dor e ao desespero. Nós eldar já saboreamos muito desse gosto, não o procure por conta própria. – Eu disse a ela com as palavras da voz.

“O Inimigo ganhou essa batalha, mas a guerra está longe de terminar” – Eu disse a ela com as palavras da mente.

Após o término da reunião, cada um deles foi descansar a seu modo. Pois deveriam aproveitar a estada em Lórien já que não veriam mais descanso num futuro próximo. E Celeborn, Mithrandir e eu tínhamos muito o que conversar também. Mesmo assim, vez ou outra meu pensamento escapava de nossas deliberações para alcançar nosso pequeno e mais novo grupo de heróis.

A palavra “herói” teve um efeito muito positivo no hobbit Falco, que treinava com seu arco sem parar, enquanto corria, pulava e fazia poses de conquistador. Vir, de Valle, não conseguia se decidir se estava mais ansioso ou mais cansado e enquanto alternava sono-e-vigília com mais intensidade do que gostaria. Rowenna caminhava solitária pelas alturas de Caras Galadhon, perdida em pensamentos. E de lá debaixo, um som muito diferente tocava uma melodia triste, a gaita do anão. Mas Qhorin foi interrompido por Ágrapo que chegava naquele instante, como um estranho chegando sem ser esperado.

_ Não, pare. Continue. – Pediu o anão mais novo sentando-se próximo do pai.

Qhorin não respondeu e terminou a canção.

_ Música bonita. Acho que conheço ela. – Disse Ágrapo.

_ Se conhece! – Respondeu Qhorin – Essa é “Montanhas da Névoa”, a canção fala sobre Erebor e Smaug, o dourado. Essa foi a canção que inspirou Thorin Escudo-de-Carvalho e sua companhia a recuperar nossa montanha.

Depois de alguns segundos em silêncio, Qhorin, olhou nos olhos do filho e continuou.

_ Na verdade, você a toca melhor do que eu.

_ Você nunca gostou muito de música… – A frase de Ágrapo era um misto de pergunta e afirmação.

_ Não – Sorriu Qhorin entregando a gaita a Ágrapo – Você é o gaitista da família.

Ágrapo arriscou alguns sopros. Os primeiros devem ter matado algum gato nas redondezas, mas logo a prática e a memória foram retornando ao anão que melhorou seu desempenho e conseguiu terminar a canção.

_ Muito bem! Você se lembrou! – Estava animado Qhorin. – O que mais você se lembra?

Ágrapo pensou um pouco e respondeu.

_ Lembro-me que você é chamado “Maestro” na montanha solitária.

_ Sim, sim! – o sorriso de Qhorin ia de orelha a orelha – Na verdade, seu avô era chamado assim. Ele também nunca foi muito dado à música, mas uma vez o próprio Dáin Pé-de-Ferro em pessoa disse que o som de seu martelo e suas ferramentos eram música para seus ouvidos, pois o trabalho de meu pai era árduo e quase sem descanso e seu som era a melodia das Colinas de Ferro. Os brinquedos que ele fabricou movimentavam o comércio de toda a região, e chegaram a ser chamados de “mágicos”. Quandos seu avô…

_ …te ensinou o ofício, você foi chamado assim, também. – Completou Ágrapo feliz – “Maestro”. Eu em lembro!

_ “Música para meus ouvidos!” – Disse Qhorin.

E pela primeira vez, em muito tempo, eles se abraçaram. Não eram mais estranhos um ao outro, eram novamente: pai e filho.

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Ágrapo está de volta!

 

Próxima Cena: Campanha em Erebor – Cena 17 – Heruwyn, a donzela de Rohan

5 Comentários leave one →
  1. 23/06/2014 16:02

    Nossinhora! Foda! Gostei bastante, principalmente por serem pontos de vista diferentes dos que estamos acostumados, pois, geralmente são os pontos de vista dos personagens dos jogadores, mas colocar o ponto de vista da titia gala e titio gand na jogada foi uma boa.

    Infelizmente essa eu tenho uma critica um pouco menos elogiosa pra fazer. Ficou um “gap” do ultimo relato pra esse, eu sei que não é uma transcrição mas faltou falar de uma parte importante, como o Thraurin deixou o grupo e não voltou mais. #chateado

    De resto, muito bom, como sempre. É muito bom matar a saudade de nossas sessões com os relatos.

  2. gerbur12 permalink
    26/06/2014 18:20

    Calma mestre Vinícius!

    Todos os nossos movimentos são friamente calculados.

    Essa história que você sentiu falta ainda será contada.

    “Aguarde e confie”.

  3. 26/06/2014 21:37

    Até agora quem está lendo só sabe que o Thraurin, Vir e Ellander foram para Moria. Mas nesse relato o Vir aparece junto com Qhorin e cia… estranho né?

    Cara, que legal que você reparou nisso!
    Mas conforme Mestre Gonça disse, essa ausência não foi acidental. Há um motivo pra isso ter acontecido. Na realidade o destino do Thraurin e Ellander (já que o Vir foi pra Lórien no fim) não é conhecido.

    O que será que aconteceu dentro de Khazad-dûm?
    É importante lembrar que Thraurin estaria chegando em Moria pouco tempo depois da própria Comitiva do Anel estar saindo de lá…

    E aí hein?
    hahahaha

    Fica tranquilo que logo logo o destino dele é revelado!

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