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Campanha em Erebor – Cena 7 – Falco

18/09/2013

Cena Anterior Dáin Pé-de-Ferro

Quando ouvi aquelas palavras pronunciadas por aqueles massivos homens de negro, emissário de um, claramente, Senhor Maligno, meu sangue congelou. Por um momento, desejei não mais ser Falco Sacola-Bolseiro

Um arrepio percorreu minha espinha e todas as outras palavras proferidas pelos tais emissários de um país sulista chamado Mordor transformaram-se em sons abafados, ecos distantes do que aquelas duas palavras poderiam representar para mim, daquele momento em diante. Pobre hobbit. Pequeno hobbit. Pobre pequeno hobbit.

Meus ouvidos ficaram moucos. A única coisa que consegui distinguir vinda daqueles dois emissários, um vestido dum negro da cor da noite, e outro com o corpo coberto de tatuagens, entre tantas outras palavras que não ouvi, foi algo sobre um anel para o Rei Dáin II, o Pé-de-Ferro. Mas nunca teria certeza.

“Condado”. “Bolseiro”.

Eu estava em Erebor, revisitando, de certa forma, os passos de meu parente Bilbo Bolseiro. Embora com outras intenções – quando saí do Condado, queria mesmo era descobrir novos sabores, novos aromas, cozinhar para o povo belo e para quem mais quisesse. Este sim era meu Smaug pessoal, mas…

“Condado”. “Bolseiro”.

Essas duas palavras martelavam e ecoavam, de forma ensurdecedora, dentro de minha cabeça, estourando meu peito, mais forte do que qualquer forja anã do reino sob a montanha…

“Condado”. “Bolseiro”.

Até a alegria de viver deixou meu corpo nessa hora…

Minutos ou horas depois (com aquele pavor frio e entorpecedor que me dominou, nunca saberei precisar) a audiência com Dáin findou. Os peticionários foram dispensados, os emissários evaporaram e, para minha – aparente – tranquilidade, sem notar minha diminuta presença na Câmara do Rei.

Acompanhado de Qhorin, Thraurin Coração-de-Martelo, Vir, Rowenna e HardHart, deixei os salões imponentes do Rei-sob-a-Montanha. Quando as pesadas portas da Câmara fecharam-se atrás de nós, notei que um auxiliar do Rei conversava discretamente com Qhorin, algo sobre uma mensagem do próprio Dáin II para o mestre artesão.

Qhorin leu a mensagem, sem demonstrar muita reação, exceto por um sutil estreitar de olhos, que foi a única demonstração de certa apreensão na fisionomia do velho anão – que abraçou discretamente Thraurin e, sem que ninguém mais notasse, além de mim é claro (“Falco, o observador”, pensei com um leve sorriso na boca), passou a missiva para seu compatriota.

Conversamos sobre o itinerário da viagem (afinal já estava decidido que iriamos atrás de Ágrapo) e já tínhamos tudo decidido – mochilas feitas, equipamentos ajustados, armas prontas… e opa! notei uma “sútil” rusga entre Rowenna, Thraurin e Mestre Qhorin!

Ocorre que HardHart havia mencionado para o artífice anão que quando a Rowenna fora emboscada nas proximidades de Valle, próximo às fazendas em expansão, Hardhart, ainda que brevemente, viu um orc das Montanhas Cinzentas utilizando o elmo de Ágrapo. Isso instigou em Qhorin o desejo de vasculhar a região atrás de rastros dos orcs, o que talvez pudesse ser feito de forma mais ágil, conforme sugestão de Thraurin, evitando-se a cidade e partindo direto para a área rural de Valle.

Rowenna, a elfa noldorin (pelo que entendi, não era uma elfa da Floresta das Trevas), para mim, não parece nutrir muita afeição pelos anões (o inverso também é verdade), tal como Bilbo sempre narrou em suas aventuras. Nunca pensei que pudesse ser tão sério! Sempre acreditei que boa parte das histórias sobre o largo mundo, contadas pelo tio Bilbo, tinham a tendência de serem ampliadas e floreadas pelo narrador. Mas talvez não….

O fato era: Rowenna (ou Thraurin – me era difícil precisar quem se opunha a quem), talvez apenas pelo prazer da contrariedade e por ser quem guiaria nosso pequeno grupo até o local da emboscada, fazia questão de passar por Valle e seguir os exatos passos de sua caminhada até Erebor. O fato é que, por algum encanto do povo belo – ou apenas para evitar mais atritos -, Mestre Qhorin acabou por ceder à posição da elfa, o que foi amplamente acatado pelo resto do grupo.

– Vamos por Valle – sacramentou Rowenna.

Eu sabia que não teria muita voz nesse tipo de decisão, então, não contestaria o que o pai de Ágrapo decidira. Comecei a lembrar de quando saí do Condado e cruzei as Montanhas Nebulosas com Ágrapo. Incrível como, em um curto espaço de tempo, é possível criar um elo de afeição por alguém. E era um anão. Onde estaria ele? Só de pensar no que HardHart viu, temo que algo muito ruim possa ter acontecido a aquele a quem aprendi, em alguns meses de estrada, a chamar de amigo.

***

A visão de Valle para quem vem de Erebor realmente é algo bonito de ser ver. A cidade, que já não mais se restringe às suas muralhas, cresce desordenadamente para todos os lados. Quando cheguei a Valle, inclusive, pude notar que as fazendas estão bastante próximas à Floresta das Trevas. Parece que a prosperidade se instalou de vez por aqui. Mas com ela, muitas pessoas estranhas, todos muito parecidos com Vir (não que ele seja uma má pessoa, mas é um bocado diferente!), tem chegado a Valle.

Chegando nos portões do que é o tradicional limite da cidade, um mar de pessoas inunda as estradas, os becos, as lojas, os restaurantes… Comida. Que vontade de comer algo. Sinto mestre Qhorin me olhando atentamente. Thraurin também.

Uma discussão a frente. Um grito feminino. Uma gritaria e uma turba agitada. Olho para Qhorin e digo que vou me esgueirar para ver o que é. Ele me segura com muita força, suas mãos calejadas e vigorosas. Basta um olhar de autoridade e ele me silencia. “Não vá. Aguardemos. Veja que Rowena e Thraurin já saíram em disparada. Veja também Hardhart, quase uma sombra para essa elfa…”. Engoliu outras palavras.

Olhei e vi aquele maciço jovem anão com passadas firmes e pouco gentis passando por aquele turbilhão de pessoas, martelo em mãos. Qhorin continuou “Vir foi ter uma visão privilegiada do portão, local onde parece estar ocorrendo a confusão”, acenou para trás e pude ver Vir em cima de uma elevação da estrada, tentando ver o que se passava. “Fique com este velho anão, que precisa de companhia”, abrandando o olhar severo, mas ainda com as mãos em mim.

Com aquele aperto, também, seria difícil sair. Mas meu espírito estava inquieto. Queria saber o que acontecia. Qualquer coisa poderia trazer aqueles dois emissários negros e eu não estava disposto a estar próximo a eles. Qhorin parece mais próximo a mim desde a audiência com o Rei-Sob-a-Montanha.

Vir foi o primeiro a voltar: “Parece que há uma confusão com outros Orientais que estão chegando. Nunca houve tantos deles por aqui, Mestre Artesão. Algo deve estar acontecendo em minha antiga pátria”.

– “Verdade, caro Vir. Talvez seja prudente evitarmos perder muito tempo por aqui. Mas também você pode tentar descobrir porque tantos dos seus estão tão longe de sua terra natal”. Rapidamente ele seguiu para o portão para onde os outros tinham se dirigido instantes antes.

Passados alguns minutos, Rowena surgiu, as mãos sujas de sangue. “Não se preocupe, pequeno. Não é meu. Apenas auxiliei um homem necessitado”. Atrás dela, HardHart, Vir e Thraurin.

“Esta elfa pode ter a voz sutil, mas nunca vi ninguém suturar alguém com tamanha selvageria”, disse Thraurin, com uma alta gargalhada. “Quase matou o ferido que tentava salvar”. Engoli seco. Melhor não provocar aquele anjo. Capa Cinzenta tornava-se mais “humana” a cada instante que passava perto de mim. Eu que sempre idealizara os elfos das histórias de Bilbo…

“Pelo menos nosso amigo mercador parece conhecer bem as pessoas por aqui, mesmo sendo ele um Oriental, e conseguiu evitar maiores confusões, não é Senhor Thraurin?”, disparou Hardhart. Thraurin abriu a boca, mas desistiu, com aquele mesmo olhar de Qhorin. Como não respeitar aquele velho e potente anão?

No fim, parece que um habitante local tentou se aproveitar de uma mulher de um Oriental e este lhe abriu as vísceras (ou tentou). Ou teria sido o contrário? Não me recordo bem. “Será quer Vir também pode ser assim, tão agressivo?”

“Qhorin, meu amigo” disse Vir no mesmo instante, antes de entrarem na cidade. “Deixe-me conduzi-los por Valle. A discrição parece ser essencial. Vamos para a praça central. De lá vou sozinho para a taverna “Quebra-queixo” conseguir mais informações sobre os Orientais. Me esperem lá e trarei mais novidades.” Qhorin acenou e todos concordamos com a sugestão. Mesmo Rowenna assentiu.

Na Praça, um grande largo, diversas barracas me encheram os olhos, mas Qhorin me convidou para sentar em um banco e ficamos conversando, enquanto Vir ia tentar obter notícia sobre o que trazia mais e mais Orientais a Valle – a cidade estava com mais deles desde que cheguei aqui. Conversávamos sobre meu parentesco com Bilbo, como os Sacola-Bolseiros poderiam ser parentes dos Bolseiros. Os troncos de nossas famílias eram bem complexos! Tentei explicar, ainda, a diferença entre os pés-peludos, os grados e cascalvas, mas parece que não sou um bom narrador. Ele me olhava atentamente, mas não parecia muito interessado (parecia mais interessado em me ter sob sua vista).

Notei que Thraurin havia desaparecido também, mas instantes depois voltou, com uma maçã na mão e um olhar um pouco desapontado. Ficou quieto, apenas cumprimentando Qhorin. Aproveitei o instante para ir comer alguma coisa – já havia passado, e muito, de qualquer oportunidade para um almoço e, ainda era necessário tentar compensar a falta de um segundo desjejum…

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Encontrei uma barraca colorida, com uma grande carroça, cheia de filés de peixe cortados e limpos. O vendedor não gostou muito que subi na barraca. Primeiro me tomou por uma criança matreira, mas depois que me examinou detidamente, notou. “Um hobbit? Em Valle. Curioso…”. “Curioso porque?” retruquei.

“Quer comer algo, mestre hobbit? Soube que adoram comer.”
“Mas é claro, senhor. O que tem para me oferecer? Peixe cru?”
“Pois sim, pequeno senhor. Uma iguaria como poucas. Experimente com um pouco de limão”.

Pensando agora, ele quase conseguiu me desviar do assunto inicial. Afinal, me pegou pelo meu ponto mais fraco (ou mais forte, dependendo do ponto de vista). A iguaria realmente era espetacular. Comprei algumas dúzias e já fui comendo algumas delas por ali. “Mas voltando ao assunto, amigo”, me dirigi ao comerciante “porque é curioso um hobbit em Valle? Meus parentes não vem muito para estas bandas?”

“Bom, da última vez que um hobbit veio por aqui, um dragão morreu, um reino anão foi reestabelecido, Esgaroth ardeu (para depois ressurgir ainda maior) e Valle foi reerguida.” Riu o homem, que atendia outras pessoas nesse meio tempo.

“Ah, pensei que estivesse interessado em mim e meus compatriotas” redargui. “A verdade”, parou ele, guardando algumas moedas no bolso e se voltando para mim “é que uns tipos estranhos queriam saber sobre hobbits do Condado. Uns sujeitos mal-encarados, com trajes negros. Ofereceram bastante ouro para que tivesse inform..”

Não terminei de ouvir. Meu coração gelou e meus pés tomaram a iniciativa de se misturar ao movimento de transeuntes e voltar para onde meus companheiros estavam. Apenas para encontrar um aflito Qhorin que, ao me ver, me repreendeu. “Não ouse se afastar de mim, hobbit! Não será você o motivo de minha desonra ante meu rei”. Não entendi nada.

“Você… fui incumbido pessoalmente pelo meu Rei, Dáin II, Rei sob a Montanha, para protegê-lo. Você está sob minha proteção por ordem real!” sacudia a carta que recebera quando saímos da Câmara do Rei. “Pode ter certeza que nunca mais sairei de teu lado, mestre Qhorin. Ainda mais agora que soube que, enquanto comia, os tais emissários que falavam com seu Rei estão procurando por mim aqui fora… Ou por mim ou por alguém do Condado…”. Eu transbordava medo.

Vir demorou ainda algum tempo a voltar, o bastante para eu tentar me acalmar, pois não havia nem sinal daqueles emissários negros. Mas quando voltou, disse que, entre uma aposta e outra, havia descoberto algo, mas sem realmente descobrir algo. Os Orientais são muito ligados ao jogo e, mesmo Vir tendo oferecido uma moeda de ouro ao outro apostador, este devolveu a moeda e se recusou a revelar o real motivo da presença de tantos colonos Orientais em Valle. Algo realmente estranho acontecia para além do mundo que eu conhecia

“Melhor irmos rápido”, observou Thraurin.

***
Com alguns dias, chegamos ao local onde Capa Cinzenta fora emboscada e salva por Hardhart. Mas não encontramos nada demais por ali, apenas rastros dos atacantes que se dirigiam à Floresta das Trevas. Entraríamos lá, se necessário fosse.

Essa noite, ainda no local que investigávamos, fiz um banquete para aqueles que me acompanhavam. Acredito que eles nunca comeram (pode ser que nunca mais venham a comer) algo tão gostoso como aquilo que preparei aquela noite. Batatas, peixe e mais algumas outras especiarias que não posso revelar – um mago nunca revela seus truques e eu, sou o Mago das Panelas! “Admitam,” falei para todos “se não fosse por mim, vocês estariam perdidos! Eu sou o centro de união deste grupo! Meu pai já dizia: os melhores tratados de paz são selados com uma boa refeição, Falco. E, modéstia a parte, eu sou o melhor nisso”. Dormi feliz por ter trazido uma experiência gastronômica única para meus companheiros.

No outro dia, nos preparávamos para seguir jornada, mas Rowenna não acordava. Entrara em alguma espécie de transe e seria carregada por Hardhart.

Passados mais alguns dias de caminhada no ermo, passando por entre fazendas e saindo de perto delas, chegamos ao borde da Floresta no cair da noite e lá descansamos. Qhorin faria a vigília. Quando acordei, no outro dia, vi Thraurin e Qhorin conversando baixo. Algo ou alguém estivera nos espiando, era melhor sair dali. Rowenna despertara de seu transe e parecia ainda mais soturna.

Entramos na Floresta, seguindo Rowenna. Quando percebemos, estávamos num caminho bem demarcado. Algum dos meus companheiros (não me recordo bem quem) perguntou: é seguro? Sabe onde estamos. “Siga o caminho. Está tudo certo”.

Nesse mesmo instante, uma dor aguda percorreu minha coxa direita. Meus sentidos ficaram enevoados. Uma flecha se alojara lá. Vi que Thraurin também fora atingido, por entre os minúsculos vãos de sua armadura. Quando me recuperei, a briga era calorosa.

“Você não percebeu que estávamos no caminho élfico, Rowena?” gritava Thraurin. “Fiquem quietos”, gritava Qhorin. “Apenas caminhávamos”, retrucava Capa Cinzenta.

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“Eu comandei que parassem, mas parece que não me ouviram”, dizia um elfo saído de lugar algum. Quando notei que outros elfos se camuflavam por entre as árvores, arcos em riste. Impossível precisar quantos eram.

Thraurin parecia ansioso por utilizar meu martelo, primeiro em Rowenna, que era chamada pelo patrulheiro elfo. “Desculpe a rudeza, Senhora Rowenna, mas os dias estão ficando escuros novamente”.

A dor me atrapalhou bastante para fixar a exata sequencia dos fatos, mas sei que para que pudéssemos seguir caminho, deveríamos ir diretamente à presença do Rei Élfico, Thranduil. Só que, para isso, deveríamos ir vendados. Mais discussão. “Impossível, somente serei vendado se ela for vendada!” explodiu Thraurin.

Eu realmente não sei como, mas de alguma forma os elfos removeram suas flechas, pediram desculpas, nos levaram até os Salões do Rei da Floresta e de alguma forma, fomos alimentados no imenso salão. E, graças à perícia de Vir – sem vendas!
Soubemos, da boca do próprio rei, que algo estranho acontecera. Uma semana atrás, teríamos sido recebidos de forma completamente distinta em seu país. Mas um bando de salteadores orcs invadira o limite do Reino Élfico e libertara um cativo. Pior, o prisioneiro era alguém que fora levado para lá a pedido do próprio Gandalf – sim, o mesmo mago responsável pelos fogos de artifício que tanto me encantavam no Condado.

O Condado. Uma nostalgia e uma saudade se abateu sobre mim. Nunca esperei ser flechado. Nunca pensei que estaria no meio de elfos, de anões. Nunca pensei que sentiria medo de ser um hobbit do Condado. O que estaria acontecendo com o mundo? Essa pergunta martelava quase tão forte quanto aquelas duas palavras. “Condado”. “Bolseiro”. Eu era um Sacola-Bolseiro. Valeria a pena seguir sendo um?

O mais curioso disso tudo, porém, era que os soldados élficos haviam abatido o orc que carregava as insígnias de Qhortin Martelo-e-Tenaz. O elmo de Ágrapo ressurgira. Qhorin foi até as masmorras élficas – as mesmas em que, dizia Bilbo, a Companhia de Thorin havia sido aprisionada tantos anos atrás… Um orc estava lá, preso. Ele deveria saber algo sobre Ágrapo.

Eu esperei sozinho por ali. Descansando minha perna e pensando onde havia me metido. Os Salões do Reino de Floresta eram maravilhosos, de beleza única, atemporal. Mas meu coração não estava tão quente quanto deveria. “Condado”. “Bolseiro”. Seu coração, desde aquele dia, na Câmara do Rei Sob A Montanha, batia ao som dessas duas palavras. “Qual é o meu lugar nisso tudo? Porque Qhorin – e Thraurin também – deveriam manter seus olhos em mim?”.

Quando Qhorin saiu das masmorras (Rowenna fora ter com Thranduil e os demais estavam por aí, HardHart também por perto) com Thraurin, ele parecia ainda mais abatido, mais velho, mais cansado. Uma escuridão se adensava perto do orc aprisionado. Sussurros de um mal antigo.

Mestre Qhorin disse, após relatar o que descobrira com o capitão da guarda e com o orc: “Ágrapo pode nunca ter chegado a Moria. Ele deve, neste instante, estar sendo torturado à exaustão, por pura e maligna diversão”. Seus olhos estavam molhados. Os meus também. “Dol Guldur…” e não terminou a frase.

Lembrei-me do pensamento que tive ao deixar Erebor. “Algo ruim pode ter acontecido a Ágrapo”. Eu tinha algumas ideias do que “ruim” poderia significar, mas todas acabavam em morte. Tortura era algo muito mais maligno e com muito mais sofrimento e “ruindade” do que eu poderia imaginar em toda minha vida… Dol Guldur, descobri, era um lugar tão proibido de se nomear quanto Mordor.

E eu já havia nomeado os dois numa única frase…

***

Naquele instante, nem mesmo a beleza dos Salões do Rei Élfico puderam aquecer o coração de Falco Sacola-Bolseiro, que mais uma vez sentiu o frio de uma Sombra que, mal sabia ele, lentamente estava a se espalhar por toda a Terra Média.

Próxima Cena: Campanha em Erebor – Cena 8 – Thraurin Coração-de-Martelo

 

5 Comentários leave one →
  1. 25/09/2013 11:51

    Esse é o post mais hobbitesco de todos, e não podia ser diferente! hehehe

    Seja bem-vindo ao blog e aos relatos Franz, já começou muito bem!!
    Adorei ver a visão do Falco aqui, como ele repara nas cores, cheiros e barulhos dos lugares que vai. Eu imagino um hobbit abismado com todas essas novas sensações que chegam a ele – um misto de susto e admiração.

    Muito hobbit!!!!

    Falco se vangloriando das suas habilidades culinárias é a cereja do topo do bolo, morri de rir lendo isso. Muito bom!!!

    Nossa história está ficando muito boa, fico feliz de termos expandido a gama de autores dela :)

  2. gerbur12 permalink
    25/09/2013 12:00

    “Dormi feliz por ter trazido uma experiência gastronômica única para meus companheiros.”

    Ter um hobbit no grupo é algo único. Porque hobbits tem um olhar tão diferente do mundo que os cerca. Eles interpretam tudo de uma nova forma. Enxergam o mundo por outro ângulo (e não estou fallando de estatura aqui) e assim nos presenteiam com novos significados para a aventura como um todo.

    Mestre Franz, parabéns pelo relato. Muito bem escrito, muito gostoso de ler (final foda!).

    Espero ver muitos posts seus aqui no blog. Seja bem-vindo!

  3. 25/09/2013 16:23

    Agradeço imensamente a oportunidade: de fazer o relato e, mais ainda, de poder participar, na pele deste diminuto hobbit, da sessão! A experiência tem sido das mais emocionantes e agradáveis em toda a minha vida de RPG. :)

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