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Resenha/Desabafo dos Hobbits [Contém Spoilers]

10/12/2014

Salve leitores!

Sei que a área de Taverna Nerd é pouco explorada no blog, mas hoje resolvi reviver um pouco essa parte menos RPGista e compartilhar com vocês minha opinião sobre os filmes dO Hobbit.

Quem acompanha o blog já sabe que eu sou fã de Tolkien. Bem, pensando bem, é possível que a palavra “fã” não carregue consigo todo o significado que as obras do Professor tem para mim, então farei um breve resumo da minha história com a Terra-Média.

O Senhor dos Anéis, e posteriormente toda a obra de John R. R. Tolkien, construiu toda a minha ética e conduta como pessoa desde o momento em que mergulhei nesse mundo, aos meus 11 anos de idade. A partir daí, comecei a explorar esse universo fantástico do bem e do mal, onde as pessoas justas são recompensadas e as malignas punidas. É o lugar em que, desde minha adolescência, eu aprendi a imaginar como ideal.

A magia de Tolkien reside na sua pureza, na simplicidade e na beleza das coisas em si. Há um post mais detalhado sobre isso pra quem se interessar aqui.

Pois bem, chega de enrolação e vamos ao relato!

Resenha – CONTÉM SPOLERS, SÓ LEIA DEPOIS DE ASSISTIR OS FILMES

Uma cilada perigosa ao analisar O Hobbit é compará-lo com o Senhor dos Anéis. É um perigo real e bem grande, pois, antes de mais nada, é importante lembrar as fontes de cada trilogia.

O Senhor dos Anéis é um livro maduro, carregado de significado e com roteiro muito bem trabalhado. O Hobbit é um livro para crianças, com direito a narrador e anéis mágicos de invisibilidade.

O desafio de filmar O Hobbit é de transformar todo esse material cru nas páginas para algo elaborado na tela do cinema. Para um público crítico e apaixonado pelos filmes anteriores da Terra-Média.

Então temos o primeiro filme dO Hobbit. Dez anos depois, finalmente um gostinho de “casa” (pra mim sempre será). E, nesse filme, Peter Jackson e sua equipe se saíram magistralmente. Com um roteiro de bom gosto, vemos uma Terra-Média no seu primor, e a oposição entre o mundo pacato do hobbit e os perigos vividos por anões e mago.

O diretor consegue transformar 12 anões diferenciados por suas cores de capuz no livro em 12 personagens diferentes, com características próprias. 12 personagens de verdade, e não 12 anões bonachões. Como diria meu amigo Gerbur Forja-Quente, inveterado fã dos anões: “Peter Jackson conseguiu, finalmente, dar dignidade aos anões!”.

E nesse mundo nós mergulhamos.  Lembro-me do trailer desse filme, e de quase chorar ouvindo a música dos anões e sobre sua missão de recuperar sua casa.

A magia sutil de Tolkien fluiu no primeiro filme, e eu acompanhei o Bilbo de corpo e alma. Quando o filme terminou, eu me senti muito bem. Eu havia voltado para a Terra-Média por algumas horas, e havia sido uma visita incrível.

Um ano depois porém, a coisa foi bem diferente…

Eu assisti a Desolação de Smaug e saí triste do cinema. Triste mesmo. Chateado, revoltado com o que o Peter Jackson havia feito com a minha Terra-Média!! Porque diabos ele criou a relação de um anão e uma elfa?!?!?

O mundo de Tolkien é sim e não, 0 ou 1. Há regras na Terra-Média. Orcs são maus. Temos que aceitar isso, é uma premissa para entendermos as coisas. Os elfos e anões não se dão, não há boas relações entre eles (e é por isso que a amizade de Gimli e Legolas é tão bonita).

Mas o diretor quer inovar, e pisa no calo dos fãs. Pisa feio. Dá um tapa na cara da plateia. Enquanto o relacionamento de Arwen e Aragorn foi magistralmente explorado no Senhor dos Anéis (suprimindo personagens como Glorfindel e trazendo material dos apêndices dos livros para a tela, valorizando estes personagens icônicos), o relacionamento de Kili e Tauriel não faz sentido. Nenhum!

A partir disso, o filme suprime um dos personagens mais interessante da história – Beorn, e ainda coroa Smaug, o último dos dragões e um dos seres mais inteligentes da Terra-Média, como um vilão bonachão do Scooby-Doo.

(Não comentarei do Super Legolas, marca registrada do Peter Jackson. Isso podemos engolir)

Não vou dizer que o 2º filme não tem nada de bom. A caracterização da Floresta das Trevas e a apresentação do anti-herói Thranduil é espetacular (e a construção do cenário e dos povos da TM é algo que me faz tirar o chapéu para o diretor).

O 2º filme, porém, termina com o dragão indo embora da Montanha. Não há conclusão de NADA nesta película. PJ apostou em deixar a conclusão do dragão e da batalha pro 3º filme, contrariando qualquer previsão lógica de separar e manter dois clímax.

Sem falar nas falsas tensões do filme, que de tão impossíveis tornam-se ridículas. A cena dos anões desistindo de entrar na Montanha depois de 1000 falas dizendo que sua vontade era de ferro ou da chave escorregando são D-E-S-N-E-C-E-S-S-Á-R-I-A-S.

Mas, pois bem, deixemos a tristeza de lado e vamos ao 3° filme…

Preparado?

Então vamos lá, 1, 2, 3, 5, 10 minutos de filme… opa, Smaug morreu!!

Bora continuar a história e… PQP!!!! Porque não aproveitar o vilão mais irado da história?? Um personagem que serve como referência para qualquer autor que escreve sobre dragão e com certeza um dos personagens mais interessantes do livro?

Mas não. Temos poucos minutos para curtir toda a majestade do “lagarto”. Enquanto todos esperavam a redenção do trapalhão Smaug  do 2º filme na tela, ele é morto com um arpão preto pelo arqueiro Bard.

Bom, quem sabe o filme compensa em outras partes?

Sim, ele compensa. Temos a atuação espetacular de Bilbo Bolseiro no 3º filme, finalmente atuando como protagonista e brilhando magistralmente na história. Thorin Escudo-de-Carvalho também manda bem e nos traz o dilema-maldição de seu povo à nossos olhos.

Mas quando voltamos ao que tá acontecendo no enredo…

Cenas de luta, cenas de luta… briga e mais briga, gente sangrando, mais exércitos vindos de Gundabad, o terrível local que não causa medo em ninguém.

Daí temos Super-Legolas, fazendo coisas tão absurdas que fez o cinema dar risada (juro que pensei que eu estava assistindo uma continuação do Sharkinado quando vi o Legolas voando)…

Mas vamos à batalha dos 5 exércitos e a mensagem do filme.

O que um livro raso como O Hobbit poderia gerar de mensagem ao público?

Convivência.

Homens, anões e elfos deixam suas diferenças de lado para lutar contra o inimigo em comum. E isso, para desespero dos sensatos, é tratado com as coxas!!! Porque não usar o diabo do relacionamento imbecil do anão com a elfa para pelo menos sensibilizar os povos? Porque não explorar o esforço de Gandalf de unir os povos?

Não, segundo o filme, tudo acontece naturalmente.

A única mensagem que o filme consegue traduzir, calcada na ótima dupla Bilbo e Thorin, é do problema da ganância e a valorização da simplicidade (mais Tolkien impossível).

Sim, obrigado Peter Jackson!! Esse foi um relance do “caminho certo”.

Mas o filme termina do jeito mais sem-graça possível. Os personagens que precisam morrer morrem, não há funeral (cena que seria ANIMAL pra se ter no cinema, com direito de um coro de anões cantando Misty Mountains Cold), não há vislumbre da coroação de Dáin e da futura convivência do Reino da Floresta (elfos), Cidade do Lago/Valle (humanos) e Erebor (anões).

Foi batalha, sangue pra todo lado e… qual foi o resultado de tudo isso?

O bem venceu, que beleza. Mas o que isso significa?

Não sabemos. Aliás, sim, sabemos. Significa que o Bilbo voltou pra casa do jeito mais sem graça possível, e nós temos que nos contentar com os links for-dummies entre o Hobbit e o Senhor dos Anéis.

“Olha, os filmes fazem parte da mesma história!”

Precisava mesmo disso Peter Jackson?

Como fui com expectativa zero de assistir o 3º filme, saí dando de ombros.

Era o que tinha pra hoje.

hobbit_desolation_of_smaug_movie

One Comment leave one →
  1. 16/12/2014 10:37

    Pois é, meu caro, isso é o que acontece com as vacas de que se tira leite demais, o leite fica ralo…

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