Pular para o conteúdo

Construindo a personagem – Qualidades e Defeitos

07/01/2013

Olá, pessoal do Aventurando-se! Talvez os novos freqüentadores do blog nem mesmo me conheçam pois estive ausente por um grande período de tempo, graças à correria do dia-a-dia e de compromissos para outro site que escrevo, mas após uma puxada de orelha involuntária do meu grande amigo Chico (este sim que mantém este blog sempre atualizado mesmo nas gélidas terras da Finlândia), resolvi voltar para compartilhar alguns pensamentos sobre a construção de uma personagem.

Hoje gostaria de falar sobre um ponto que vejo muitos RPGs adotando em suas mecânicas e que acho muito bacana, mas que, na prática, nem sempre se tornam uma boa sacada: qualidades e defeitos.

Hoje é comum termos uma lista de qualidades e defeitos que podemos adicionar aos nossos personagens, dos mais variados tipos e nas mais variadas situações, previstos na mecânica do jogo e até com espaço nas fichas. A primeira vez que me deparei com um RPG que propunha isso fiquei extremamente impressionado com a ideia, e achei aquilo tudo muito bacana. Afinal, dar qualidades e, acima de tudo, defeitos aos personagens poderiam torná-los ainda mais “humanos”, ainda mais verossímeis e poderiam somar muito ao roleplay, certo? Pois é, nem sempre isto está certo.

Figurante

Vai um aventureiro inseguro aí?

Já na minha primeira experiência com isto tive um problema: eu estava mestrando (sim, que evolução do carinha que só ia para comer pizza, não?) quando, de repente, aparece um desafio para os aventureiros! Mas o que seria uma batalha divertida em meio à aventura se tornou um empecilho: dois dos aventureiros não conseguiam lutar, pois os defeitos que tinham escolhido os impediam de terem coragem para tal.

A culpa, é claro, não era exclusivamente deles, mas sim minha também. Afinal, o mestre, que pode prever os perigos que serão enfrentados pelos aventureiros, deveria não permitir ou ao menos avisar os aventureiros que aquele defeito iria atrapalhar eles para aproveitar plenamente a aventura. Então o primeiro trabalho é o do mestre: com sua aventura em mente, observe bem a lista de qualidades ou defeitos e exclua ou coloque avisos nos que podem prejudicá-lo. Isto pode evitar muitas frustrações no caminho.

Agora que as qualidade e defeitos foram previamente permitidas pelo mestre, é hora do jogador escolher. Mas uma coisa muito importante é pensar na história daquela qualidade ou defeito. Por exemplo, não basta você simplesmente dizer que seu personagem é manco, ou caolho, pois isto vai se transformar apenas em uma característica superficial, sem sentido, apenas uma caricatura, e você vai, em certos momentos, até mesmo esquecer que ela existe. Por isso você tem que pensar na história por trás disso, para dar a tudo mais sentido. Como você ficou manco? Como você ficou caolho? E o que te motiva, mesmo com estes defeitos físicos, a sair em uma aventura? Isto é fundamental para a construção de sua personagem.

Outra dica é você usar o bom-senso e maneiras menos óbvias de demonstrar estas características. Por exemplo: se seu personagem é cleptomaníaco e está numa sala com várias coisas que ele queira pegar, porém a sala está repleta de guardas e nenhuma saída possível, ele não precisa simplesmente pegar as coisas mesmo assim. Ele é cleptomaníaco, não burro. Pense no menos óbvio. Pense que ele vai tentar usar uma desculpa para voltar lá num momento mais adequado, armar um plano para distrair os guardas e conseguir uma rota de fuga, etc. Use sua imaginação! Talvez este tipo de ação gere sementes de aventura mais interessantes do que agir da maneira óbvia e “na cara”. Use o bom senso, tanto você quanto o mestre para avaliar o roleplay. Existem mestres que ameaçam “punir” os jogadores por não estarem “seguindo as características da personagem”. Caso você seja o mestre, tome cuidado para não ser assim, e analisar as coisas em um âmbito mais amplo.

Com estas simples dicas as qualidades e defeitos serão uma ótima ferramenta para você construir uma personagem e se afastar de seus próprios clichês. Lembre-se: as qualidades e defeitos não são o fim, mas apenas um meio, sementes de ideias para criar backgrounds para os seus personagens. Use sua imaginação e divirta-se com elas!

2 Comentários leave one →
  1. m4lk1e permalink
    07/01/2013 23:03

    Saudações, companheiro, e parabéns pelo texto. É realmente uma cautela muito necessária, com estas características – ainda mais com tantos jogos que priorizam as desvantagens (nem vou citar nomes porque a lista é crescente), mas que vejo muitos jogadores deixarem “passar batido”.

    Enfim, nada que alguns conflitos não resolvam, não é mesmo? ^^

  2. 08/01/2013 15:52

    Você apontou algo interessante, a importância da coerência e do histórico.
    Muitas vezes a gente deixa de lado esses aspectos básicos porém necessários.

    Valeu pelo post, fiquei feliz de ver um post seu novamente!

    Abração

Deixe um comentário